Vez por
outra, entre o desespero e o juízo, torna-se complicado e cruel distinguir o
que fora amor e o que não passou de poeira varrida para debaixo do tapete que
sangra, sofre, perdoa e se vinga. Vez por outra, o frio não passa de saudade e
a saudade não passa de janelas abertas em dias de inverno ou solidão. Para quem
bebe no copo meio cheio é quase indolor vê-lo transformando-se em algo meio
vazio. Desconhecer é o primeiro passo de um tabuleiro cujo fim não passa de um
novo começo. É nos momentos de loucura que a ausência quer ser racional,
fazendo o nada transformar-se em puro pessimismo e preguiça de viver. Inviável
saber o que são borboletas, libélulas, anjos e demônios, se todos têm asas e
vida curta. Inviável, contudo, é permanecer no engano quando os pés imploram
por uma sabedoria um pouco mais concreta que o ar. A falta do plural acomoda
camas, livros, bebidas quentes e insônia. A falta de si mesmo acomoda plurais
no mundo inteiro, fazendo do outro nada mais que uma necessidade. Isso são
entrelinhas, caminhos, destinos, acasos, estradas de terra e água de concreto
que escorre pelos olhos. Ironias. O que é belo, não precisa ser sublime. O que
é confuso, não precisa se feio. O que é concreto, não precisa ser real. O que é
desconhecido, não precisa ser estranho. Isso é amor, que não cabe na paixão,
que não sabe se é feliz porque simplesmente não conhece a tristeza. Ser amante,
ser errante, ser humano é necessitar de tudo e não precisar de nada.
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